Poema-orelha


Esta é a orelha do livro
    por onde o poeta escuta
    se delem falam mal
    ou se o amam.
    Uma orelha ou uma boca
    sequiosa de palavras?
    São oito livros velhos
    e mais um livro novo
    de um poeta ainda mais velho
    que a vida viveu
    e contudo provoca
    a viver sempre e nunca.
    Oito livros que o tempo
    empurrou para longe
    de mim
    mais um livro sem tempo
    em que o poeta se contempla
    e se diz boa-tarde
    (ensaio de bom-noite,
    variante de bom-dia,
    que tudo é o vasto dia
    em seus compartimentos
    nem sempre respiráveis
    e todos habitados
    enfim.)
    Não me leias se buscas
    flamante novidade
    ou sopro de Camões.
    Aquilo que revelo
    e o mais que segue oculto
    em vítreos alçapões
    são notícias humanas,
    simples estar-no-mundo,
    e brincos de palavra,
    um não-estar-estando,
    mas que tal jeito urdidos
    o jogo e a confissão
    que nem ditongo eu mesmo
    o vivido e o inventado.
    Tudo vivido? Nada.
    Nada vivido? Tudo.
    A orelha pouco explica
    de cuidados terrenos;
    e a poesia mais rica
    é um sinal de menos.


作者
Carlos Drummond de Andrade

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