RECIFE


Há que tempo que não te vejo!
    Não foi por querer, não pude.
    Nesse ponto a vida me foi madastra,
    Recife.
    Mas não houve dia em que te não sentisse dentro de mim:
    Nos ossos, os olhos, nos ouvidos, no sangue, na carne,
    Recife.
    Não como és hoje,
    Mas como eras na minha infância,
    Quando as crianças brincavam no meio da rua
    (Não havia ainda automóveis)
    E os adultos conversavam de cadeira nas calçadas
    (Continuavas província,
    Recife).
    Eras um Recife sem arranha-céus, sem comunistas
    Sem Arraes, e com arroz,
    Muito arroz,
    De água e sal,
    Recife.
    Um Recife ainda do tempo em que o meu avô materno
    Alforriava espontaneamente
    A moça preta Tomásia, sua escrava,
    Que depois foi a nossa cozinheira
    Até morrer,
    Recife.
    Ainda existirá a velha casa senhorial do Monteiro?
    Meu sonho era acabar morando e morrendo
    Na velha casa do Monteiro.
    Já que não pode ser,
    Quero, na hora da morte, estar lúcido
    Para mandar a ti o meu último pensamento,
    Recife.


作者
Manuel Bandeira

报错/编辑
  1. 初次上传:zhy
添加诗作
其他版本
添加译本

PoemWiki 评分

暂无评分
轻点评分 ⇨
  1. 暂无评论    写评论